O transtorno de abuso de álcool é uma condição de recaídas crônicas, caracterizado pelo prejuízo nas habilidades de regular ou abster o uso do álcool apesar de consequências negativas nos âmbitos pessoais, ocupacionais e sociais. Foi proposto um modelo de 3 domínios que diz respeito às estruturas neuropsicológicas do transtorno. O primeiro domínio é o de emoções negativas, envolvendo sentimentos de disforia, hipo-hedonia, hipersensibilidade ao estresse e sintomas de abstinência. O segundo é o de mudanças no âmbito de relevância do incentivo, o qual abrange a formação de hábitos, viés atencional. O terceiro e último domínio diz respeito às mudanças no funcionamento executivo, incluindo comportamentos focados em objetivos, inibição de respostas e flexibilidade cognitiva.
Um ponto importante e relevante para os estudos sobre o Transtorno de abuso de álcool são situações internas, como estresse, ou externas, como disponibilidade de álcool, que são preditores significantes de recaídas.
Mesmo com alguns medicamentos sendo utilizados para o Transtorno de Abuso de álcool, poucas pessoas com o transtorno estão recebendo tratamento atualmente, podendo ser atribuído parcialmente a inefetividade e efeitos colaterais de medicações atualmente disponíveis.
Alguns estudos recentes sugerem que a psilocibina, psicoativo de cogumelos mágicos, em conjunto com psicoterapia, pode acelerar uma redução prolongada em comportamentos de abuso de álcool após uma ou duas administrações da substância e diferentemente das opções de medicações atualmente no mercado, o tratamento com psilocibina tem uma resposta rápida, com ganhos do tratamento se mantendo e persistindo por 6 meses até 4 anos e meio.
Acredita-se que os efeitos psicológicos de psicodélicos interferem nos domínios centrais do transtorno de uso de álcool. Um grande número de estudos sugere que a substância potencializa um humor positivo e diminui a intensidade de humores negativos e do neuroticismo, afetando diretamente o domínio de emoções negativas. Considerando o domínio de mudanças no âmbito de relevância do incentivo, foi observado que os psicodélicos aumentam os traços de personalidade de abertura e conscienciosidade e em um estudo com o transtorno, foi percebido uma diminuição no desejo por álcool entre os pacientes. Por fim, em relação ao domínio de funções executivas, os psicodélicos têm demonstrado um aumento na flexibilidade cognitiva, controle e capacidades de mindfulness.
O artigo traz como conclusão que os resultados dos estudos sugerem grandes efeitos e revelam um interessante potencial terapêutico de mudanças neurais no tratamento do Transtorno por abuso de álcool com psilocibina.